Ao longo dos últimos anos, percebemos um aumento da procura por serviços de modelagem BIM, um dos itens mais solicitados aqui no NIB. Geralmente motivadas por uma necessidade de adequar-se à novas tendências de mercado ou atender a exigências de contratantes, muitas empresas têm buscado parceiros para ajudá-las a desenvolver modelos virtuais de seus empreendimentos.
Nossa experiência com a elaboração de modelos BIM é bastante satisfatória, já que quase sempre reforça o seu alto potencial para identificar erros, oportunidades de melhoria e redução de custos do projeto. Porém, nem sempre é possível tirar partido de todos os seus potenciais ganhos, pois muitas vezes são limitados por uma falta de integração do modelo BIM ao processo de projeto e planejamento da obra.
Hoje vamos falar um pouco mais sobre isso, utilizando exemplos reais de um modelo que desenvolvemos para um cliente recentemente. Nosso objetivo é ajudar vocês a visualizarem algumas questões e contribuir para uma melhor compreensão de como podemos juntos construir modelos mais eficazes.
Detecção de interferências entre sistemas
Em quase todos os nossos trabalhos de modelagem, o cliente chega sem muita clareza sobre qual a finalidade do modelo e quais os resultados esperados com o mesmo. Por isso, antes de tudo, procuramos entender as suas necessidades e orientá-lo em relação à estrutura mais adequada para o seu modelo. Afinal, modelos com finalidades distintas podem conter informações distintas. Um modelo para extração de quantitativos é diferente de um modelo para planejamento de obra que, por sua vez é diferente de um modelo para a gestão da operação de um consrução.
No caso do empreendimento que vamos tratar aqui, o objetivo era a compatibilização dos projetos de arquitetura, estrutura e instalações. O cliente é uma construtora que estava desenvolvendo um condomínio residencial de sobrados com três quartos no exterior. Para esta modelagem, além dos desafios habituais, tivemos que lidar com termos técnicos em inglês e um sistema construtivo bastante diferente do nosso.
Neste modelo, as incompatibilidades mais críticas foram entre os projetos de climatização e estrutural. Depois de modelar e sobrepor os elementos de cada projeto, identificamos interferências significativas entre os dutos flexíveis de climatização e as treliças de madeira ou vigas de concreto, conforme podem ver na imagem abaixo.
Interferências como estas certamente geram prejuízos para um empreendimento. Ao receber um relatório de interferências, o responsável pela coordenação de projetos deve solicitar revisões de projeto. Essas revisões, além de gerar custos, podem acarretar em muitas alterações no projeto original, como as listadas abaixo:
- Aspectos definidos na fase conceitual do projeto, como dimensões gerais, proporções, escolhas de materiais, acabamentos e sistemas construtivos.
- Aspectos relacionados à restrições de código de obras e zoneamento, como pé-direito e áreas mínimas.
- Quantitativos e estimativas de custo.
- Desempenho de sistemas, como iluminação, acústica, segurança, estrutural, etc.
- Especificações técnicas de elementos construtivos.
Análise comparativa entre cenários e possíveis soluções
A depender do estágio de desenvolvimento do projeto, o custo de tais alterações varia significativamente, tornando viáveis ou inviáveis determinados tipos de soluções. A título de exemplo, vamos considerar três cenários para o problema de compatibilização entre estrutura e sistema de climatização.
Cenário 01: Fase de Anteprojeto
Nesse cenário, o leque de possíveis soluções de compatibilização é maior, pois o baixo nível de desenvolvimento dos projetos permite alterações com menores esforços. Projetistas podem estudar alternativas variadas, desde a alteração das dimensões de pé-direito para acomodar a passagem dos dutos, até a opção por elementos estruturais alternativos. As novas decisões devem ser compatibilizadas com o projeto arquitetônico e demais projetos complementares, envolvendo os responsáveis das demais disciplinas nas tomadas de decisão.
Cenário 2: Fase de projeto executivo
Neste cenário, todos os projetos encontram-se em um alto nível de desenvolvimento. Soluções que interferem em outras disciplinas devem ser evitadas, pois demandam um altíssimo esforço de alteração. Por exemplo, aumentar o pé-direito do edifício acarretaria alterações em todos os sistemas de vedação, gerando impacto no seu detalhamento, quantitativos e estimativas de orçamento. É por isso que frequentemente as soluções de compatibilização desenvolvidas neste estágio quase sempre geram excedentes no orçamento original e não levam em consideração todos os sistemas de forma integrada.
Cenário 3: Fase de Obra
Neste cenário, alterações de projeto além de demandar um altíssimo esforço de alteração, necessariamente geram impactos na logística da obra. Alguns problemas gerados neste estágio são a necessidade de alterações de pedidos de materiais e elementos pré-fabricados, custos de cancelamento de contratos, novos prazos de entrega que impactam diretamente no cronogramas de obra, retrabalhos com a demolição de elementos já construídos, e custos com material e mão de obra além do orçamento. As soluções desenvolvidas neste estágio também comprometem a qualidade da execução da obra, que pode ser percebida pelo cliente final.
Modelos BIM e a importância dos projetos integrados
Com esses cenários queremos mostrar na prática o quê muitos especialistas afirmam constantemente: BIM faz mais sentido quando devidamente integrado à todas as fases do projeto, sobretudo nas fases iniciais, quando o custo das alterações é significativamente mais baixo que nas fases seguintes.
Isso é demonstrado na imagem abaixo (adaptado de Curva de MacLeamy), que prvavelmente estava presente em todas as apresentações que você já viu sobre BIM:
gráfico parece complicado mas representa uma ideia muito simples: quanto mais tardia uma alteração de projeto, maior o seu custo e menor a sua capacidade de impactar o projeto. A ideia é utilizada também para reforçar o conceito de IPD- Integrated Project Delivery, um método de trabalho que tem como premissa a eficiência e uso da tecnologia para facilitar a comunicação de todas as partes envolvidas em um projeto.
Dessa forma, podemos dizer que BIM e projetos integrados são absolutamente complementares. Uma metodologia de projeto que visa a integração de pessoas e processos em todas as etapas de projeto necessita de ferramentas que facilitem o compartilhamento e intercâmbio de informações. O modelo BIM, por sua vez, pede fluxos de trabalho integrados e perde a sua eficácia quando utilizado de maneira isolada.
Conclusão
A elaboração de um modelo BIM de um projeto já executado é bastante “educativa”, pois mostra todas as fragilidades do processo de projeto tradicional. Contudo, as empresas que quiserem tirar partido de todo o potencial do BIM em seus empreendimentos devem sempre buscar um processo completo de implantação, que passa por uma análise crítica e revisão de seus processos, além de treinamentos para sua equipe.
Para esses e outros serviços podem sempre contar com o Núcleo BIM. No serviço de implantação orientamos a empresas quanto aos procedimentos necessários para a migração do fluxo de trabalho tradicional para o fluxo de trabalho BIM.
——-
Ficou alguma dúvida em relação ao uso de modelo BIM na sua empresa? Deixe nos comentários, vamos adorar saber mais!